segunda-feira, 24 de março de 2014

Scars of shame.

          Hoje eu lembrei de um vídeo que eu vi que  me deu uma "luz" sobre o nosso problema. É o trailer de um documentário que conta a história da Angie.
        Eu me identifiquei muito com ela quando ela fala das coisas que ela usou pra parar como unhas postiças, cortar a unha bem curta, cortar as pontas do dedo para doerem quando tiver coçando. (A imagem da mulher coçando a perna é como se eu tivesse olhando pra mim).
      Ela conta que usa outras ferramentas pontudas e fica cavucando porque, de uma forma irracional, ela acredita que está fazendo algo bom. É como eu me sinto querendo tirar um pelo encravado ou um "cravinho".
            Só achei muito triste o fim do trailer pois ela mostra um pensamento que muitos de nós temos ou já tivemos: suicídio.
             Não  vale a pena acabar com a vida por causa disso. Nossa pele não é o que nos define. Nós somos muito mais do que aparentamos e apesar dessa luta interna e esse segredo, nós podemos criar muito em vida. Eu falo isso pela minha experiência. 
             Eu sofro MUITO. Tem dias que é mais, tem dias que é menos. Mas eu SEI que tem muita gente no mundo escondendo um segredo e eu sou só mais uma aprendendo a viver com o meu.

Vale a pena assistir. 
 
*Hoje eu vou tentar marcar com outra psicóloga. Vamos ver se ela se interessa em pelo menos pesquisar sobre o assunto. haha *

quinta-feira, 20 de março de 2014

Cuidados

     Hoje eu tenho  uma festa pra ir. Estou bastante animada, prova disso é que minha pele está um lixo.
Confesso que não estou tomando o citalopran que a  minha médica receitou para controlar a ansiedade e nem fazendo terapia  no  momento.


Cuidado com a pele

   No réveillon a minha única promessa foi cuidar bem da minha pele. Logo em janeiro eu já marquei dermatologista, psicóloga e psiquiatra para me acompanharem na minha saga. A minha dermato é PERFEITA, a pele dela é linda e ela sabia de cara o que eu tinha (o que é raro de acontecer), só que a psiquiatra e psicóloga não deram a devida atenção.
    Eu mesma acho que deveria ter persistido mais na terapia mas eu, como estudante de psicologia, fui obrigada a largar a minha psicóloga quando, ao dizer que eu cutucava a minha pele, me afirmou sem nenhum outro conhecimento que aquilo era CULPA. Ora, mesmo se fosse, eu não dei informação suficiente para ela afirmar isso com tanta certeza.
    Acredito  que o mais difícil da doença é justamente essa necessidade da ajuda do outro. Eu, pelo menos, não consigo tirar da cabeça que o médico é uma pessoa como qualquer outra e fico extremamente constrangida quando preciso mostrar minha pele para algum.

Os médicos

    Sempre procurei dermatologistas para acabar com as "bolinhas" no meu braço. O maior problema é que é muito difícil assumir que tem essa doença, por isso eu  sempre mentia: falava que era uma alergia ou que eu coçava inconscientemente.
    Como moro em uma cidade muito pequena, nas  primeiras vezes os médicos só passavam creminhos para aliviar a coceira (que nem existia de verdade) e ficava por isso mesmo.
      Em 2008 eu fiquei sabendo de uma médica que veio para a minha cidade que era da capital e que sabia muito mais do que qualquer um que tinha aqui. Fui correndo nela e decidi falar a verdade. Contei pra ela que eu me machucava principalmente quando estava muito nervosa e que eu queria tentar acabar com as manchas. PRA QUE?! A mulher me pediu pra tirar a blusa e eu tirei, morrendo de vergonha. No mesmo instante ela começou a brigar comigo, GRITANDO dizendo que eu sou louca e puxando a minha calça pra baixo pra ver se eu tinha mais manchas. Disse que eu era doente mental e que eu devia estar internada. (É obvio que eu me senti completamente humilhada e só fui procurar um médico novamente em 2010).
     A falta de estudo sobre essa doença aqui no Brasil faz com que muitos médicos não entendam o cuidado que devem ter com os pacientes.  Em 2010 eu fui até a Bh fazer tratamento com um médico bem louquinho mas que pelo menos se aproximou do que eu tinha. Ele foi o primeiro a me fazer procurar sobre a doença e que me fez descobrir o nome Dermatilomania. 
    Inicialmente o meu diagnóstico era de dermatite factícia.  Nessa época eu fiz vários pillings que fizeram minha  pele do braço e costas melhorarem consideravelmente. Notei que enquanto estava em tratamento, eu não cutucava a minha pele, foi uma época boa.
     Infelizmente, no final de 2010 o meu namorado terminou comigo e eu fiquei arrasada. Acabei jogando pelo ralo uma fortuna em tratamento. Até hoje a minha pele não se recuperou dessa época e só agora eu estou voltando com as esperanças.

Essa é uma parte de mim:

Coisas que me ajudaram ficar um tempo maior sem me machucar:

  1. Enquanto eu estava em tratamento, como eu ia ao médico toda semana, eu conseguia me controlar por longo período.
  1. Quando eu coloquei unha de gel, eu não CONSEGUIA coçar. Pena que ela  quebrou e eu não achei local na minha cidade que faça.
  1. Academia também diminui ansiedade um pouco

quarta-feira, 19 de março de 2014

Socialmente

O meu "amanhã" atravessou o carnaval e minha semana de prova na faculdade... hahaha.


Sobre as minhas relações pessoais

      É de se imaginar que pessoas com essa doença possuam problemas para se relacionarem justamente por quererem esconder as marcas. Confesso que é muito difícil e que eu tive sorte por morar numa cidade relativamente fria e longe de praias.
     Quando eu era criança até sofri um pouco de bullying por causa do meu braço "nojento". Muitas pessoas insistem em negar, mas as crianças são muito mais malvadas que os adultos e, SIM, elas sabem que fazem mal ao coleguinha e continuam por puro prazer.
     Na adolescência eu comecei a esconder, usava sempre blusas com mangas compridas e consegui fazer várias amizades. Minhas roupas sempre eram de frio, o que me limitava um pouco sim. Eu não podia ir ao clube, festinhas que envolvessem piscina ou viajar para a praia. Foto de biquíni? Nem pensar. Mas nas demais festas eu fui e aproveitei muito. 
Fiz grandes amizades e tive meus namoradinhos. Consegui levar uma vida quase normal. QUASE.

Por que não dá pra ser normal

  •          A cada ano que passa o calor está mais intenso. Hoje eu até penso se seria melhor mostrar minha pele ou sair de blusa porque as blusas de frio incomodam muito as pessoas. Na faculdade já ouvi falar sobre especulações sobre doenças graves e contagiosas. Infelizmente, pra mim, andar de vestido na rua é a mesma coisa que andar completamente nua.
  • Já fui algumas vezes à praia e foi completamente constrangedor. Atualmente, me sinto muito mal por não poder viajar para a praia com o meu noivo e recusar os convites dos amigos para festas na piscina. É muito triste mesmo. 
  • Isso é quase tão  triste quanto se sentir incompleta numa relação amorosa em que tudo deve ser feito num completo breu (tive sorte mais uma vez por ter encontrado um noivo que me aceite).


     *Esse ano estou tentando reforçar o meu casamento para botar um vestido de noiva bem bonito no meu casamento. Até agora não tive sucesso, mas nunca desisti. Vou comentando aqui sobre o meu processo. :)

sábado, 1 de março de 2014

Meu eu



Boa noite!!

Voltando ao que eu estava contando ontem:


    Ao longo dos anos eu acabei cultivando diversas marcas no meu corpo, mas acho que por um lado eu tive sorte pois o meu rosto se “livrou” dos meus ataques e o fato de eu morar numa cidade que não tem praia me ajudou muito a evitar mais constrangimento. 
   Já faz um tempo que eu li em uma dessas paginas sobre uma  mãe do RJ lamentando sobre o filho que não saía da cama fazia um tempo por causa da depressão que isso causava. Eu me senti muito forte por ter conseguido fugir um pouco disso. 


  Como colei ontem do Wikpédia, algum estudioso já constatou a possibilidade dessa doença ser hereditária. Infelizmente, acredito que minha família pode provar isso, já que minha mãe e meus irmãos passam pelo mesmo, com intensidades diferentes. Nesse ponto, no entanto, não tive sorte; enquanto outros membros da minha família focaram em apenas uma parte do corpo, eu fui distribuindo os danos.


      As vezes me pergunto se as pessoas ficariam mais incomodadas vendo minha pele ou me vendo vestida de roupa de frio no verão. Todo verão eu tenho  que  abrir o meu “livro de descupas” para  responder as  típicas perguntas como: como você aguenta ficar com essa blusa? (hoje eu acredito que já até criei uma resistência e sinto mesmo menos calor do que as outras pessoas “normais”). 

    E quando eu ia comprar uma roupa ou deixava aparecer sem querer alguma mancha? Eu sempre dizia que era uma  alergia. Melhor poupá-los da verdade.

     No final das contas, foi sempre muito difícil pra mim manter uma vida social dentro do “comum”, mas fico contente pois sinto que consegui. É claro que sinto até um pouco de inveja olhando as meninas com short  e os vestidos lindos  que eu nunca pude usar.
     Não deixei de sair e me divertir por causa das minhas roupas , tive namorados e estou até noiva de um homem que me apoia em todos os sentidos, mesmo não me entendendo

Nem  posso culpar o meu noivo pelo não entendimento quando eu mesma não entendo. 

Como posso machucar a minha pele por prazer? 
Como posso passar horas deixando minha mente voar enquanto  me arranco, puxo e furo? Como posso dizer que estou acordada e consciente enquanto faço isso e que no momento essa parece a coisa mais certa ao se fazer? 
Quem entenderá que por mais que eu deteste as minhas manchas, o mínimo relevo na minha pele precisa ser arrancado imediatamente de lá?


  
Depois de um tempo me escondendo nas minhas roupas, decidi procurar ajuda profissional. Essa foi uma enorme aventura que eu contarei outro dia!

obs:  tenho pegado imagens do tumblr bodyversusfingers